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Toxoplasmose em Cães e Gatos

03/03/2016
 

Toxoplasmose em Cães e Gatos

 

A toxoplasmose é uma doença sistêmica causada pelo Toxoplasma gondii, um parasita coccídio que infecta praticamente todos os animais de sangue quente, incluindo as pessoas[2]. Existe 3 estágios infecciosos da toxoplasmose[2]:

  • Oocistos: são excretados nas fezes
  • Taquizoítos: estágio de disseminação e multiplicação rápida[1], são encontrados nos tecidos (muscular, por ex). Replicam-se até que as células contaminadas sejam destruídas ou que o sistema imunológico do hospedeiro atenue o processo[2].
  • Bradizoítos: estágio persistente e de multiplicação lenta[1], também encontrados em tecidos, principalmente SNC, músculos e órgãos viscerais. É provável que esta fase permaneça nos tecidos pelo resto da vida do hospedeiro[2].

Gatos domésticos e outros felinos são considerados hospedeiros definitivos[1,2], pois conseguem excretar oocistos via fezes. Todas as outras espécies “não felinas” são consideradas hospedeiros intermediários, que formam cistos escondidos nos tecidos[2]. Existe basicamente 3 formas de transmissão da doença[2]: congênita/transplacentária (ou seja, o indivíduo se contamina durante a gestação), ingestão de carne contaminada ou ingestão de cistos que contaminaram água ou comida (vegetais).

Uma frequência grande da doença foi observada em cães e gatos alimentados com carnes  cruas ao invés de ração[2]. Também foi observada maior prevalência em gatos idosos, e naqueles que tem acesso a rua ou são animais errantes ou ainda os animais de abrigos[2].

Ciclo Biológico: Os oocistos nas fezes dos gatos, por si só não são infecciosos, nem esporulados[1]. Para que sejam infectantes, precisam ficar expostos ao tempo por 2 a 5 dias, com oxigênio, temperatura e umidade ambiente apropriadas, para que se desenvolvam em  esporozoítas[1]. Uma vez esporulados, os oocistos são infecciosos para a maioria dos vertebrados de sangue quente, e conseguem sobreviver no ambiente por meses a anos[1].

Os taquizoítas e os bradizoítas são os 2 estágios  T. gondii  encontrados nos tecidos. A ingestão de bradizoítas do toxoplasma durante alimentação carnívora infecta mais comumente os gatos[1]. Pela maior probabilidade de que os cães sejam coprofágicos se comparados aos gatos, a ingestão de oócitos é um modo de infecção provável[1].

 

Sinais Clínicos

O tipo e a severidades da doença clínica vai depender do grau e localização do tecido lesado[2], sendo que todos os tecidos são suscetíveis.  Doenças concomitantes ou imunossupressão torna o  hospedeiro mais susceptível a  doença pois, este microrganismo age como  patógeno oportunista.

Gatos 

Os filhotes infectados via transplacentária apresentam sinais mais graves, alguns morrem logo após nascimento, outros dias depois. Os que resistem podem apresentar lesões graves em fígado, olhos e SNC[2]. Os gatos após infectados, podem apresentar o ciclo intestinal com duração de 1 a 2 semanas,  e somente cerca de 10-20% destes gatos poderão apresentar diarreia autolimitante[1]. Já no ciclo extra-intestinal, pode ocorrer infecção de órgãos vitais, com morte súbita: tecido hepático, pulmonar, nervoso e pancreático são comumente envolvidos[1]. A toxoplasmose disseminada em gatos pode causar depressão, anorexia, febre, efusão peritoneal, icterícia, dispnéia, pneumonia e morte[1,2]. Nos gatos imunossuprimidos, ou naqueles portadores de Fiv, Felv e/ou PIF a disseminação pode ser rápida.

As infecções podem se tornar crônicas a partir da infecção extra-intestinal, levando o animal apresentar sintomas de acordo com o local lesionado. Alguns gatos podem apresentar sinais oftálmicos, com uveíte ou sinais sistêmicos como febre, hiperestesia muscular, perda de peso, anorexia, convulsões, ataxia, icterícia, diarreia e pancreatite[1].

 

Cães

Toxoplasmose clínica em cães, esta comumente associada a animais com cinomose,  ou outras infecções como erliquiose, terapia longa com corticóides, ou vacinação com agentes vivos atenuados.  Mas nem sempre há necessidade de doença pré para manifestação de sinais de toxoplasmose[2].

Os cães com toxoplasmose generalizada podem apresentar infecção respiratória, gastrointestinal ou neuromuscular, resultando em febre, vômito, diarreia, dispnéia e icterícia[1].  Os cães com miosite apresentam fraqueza, marcha rígida ou emaciação muscular[1]. Pode ocorrer uma rápida evolução para tetraparesia e paralisia. Ataxia, convulsões, tremores, déficits dos nervos cranianos, paresia e paralisia são manifestações comuns da toxoplasmose no tecido nervoso central[1].  Alguns cães podem apresentar sinais clínicos de doenças cardíacas, assim como sintomatologia oftálmica.

 

Diagnóstico

Alguns gatos podem demonstrar alterações em hemograma com variação nas células de defesa, mas nada específico relativo a toxoplasmose, assim como alteração em exames bioquímicos. Já alterações radiográficas podem ser comuns, com alteração no padrão pulmonar e efusão pleural[1].

O diagnóstico definitivo tanto para cães como gatos, é a visualização de alguma das fases do microrganismo nos tecidos, efusões ou fluidos de lavado alveolar, no humor aquoso ou líquido cerebroespinhal[1,2]. Porém isso é muito difícil, principalmente na doença crônica.  Exames de fezes no gatos suspeitos, também não ajuda muito, pois outros tipos de parasitas apresentam morfologia  igual aos oocistos de T.gondii

A sorologia pode detectar anticorpos específicos no  soro de cães e gatos normais, assim como naqueles com sinais clínicos de doença. De modo que é impossível fazer um diagnóstico da toxoplasmose clínica antes da morte, tomando por base testes isoladamente.

Uma tentativa diagnóstica, pode ser feita através da combinação de[1,2]:

- demonstração de anticorpos no soro, que somente diz que o animal entrou em contato com o T.gondii, mas não que ele esteja ativo causando doença

- demonstração de um título de IgM maior que 1:64 ou aumento 4 vezes ou mais no título de IgG

- sinais clínicos sugestivos

- exclusão de outras causas comuns dos sinais clínicos apresentados

- resposta positiva ao tratamento indicado (diagnóstico terapêutico) [2]

O PCR pode ajudar na detecção do microrganismo no humor aquoso (componente estrutural dos olhos) ou do líquido cefalorraquidiano[1].

 

Tratamento

Além do tratamento sintomático, de acordo com o tipo de tecido afetado, o cão/gato  necessitará de antibióticos por pelo menos 4 semanas. Os animais com manifestações oftálmicas requerem maiores cuidados, com uso de colírios e outras medicações orais, para evitar danos permanentes. A toxoplasmose ocular, nervosa e neuromuscular responde lentamente ao tratamento[1], já os outros sinais geralmente resolvem-se nos 3 primeiros dias de administração de anfibióticos[1]. Porém não há nenhuma droga capaz de eliminar completamente o microrganismo do corpo, e portanto recorrências podem ser comuns[1], e além disso torna o prognóstico ruim para cães e gatos com toxoplasmose disseminada.

 

Principais dúvidas relacionadas a transmissão e contaminação de humanos pelos gatos de estimação: (adaptação  [3])

As infecções em adultos e crianças imunocompetentes frequentemente são assintomáticas ou causam apenas uma doença semelhante a uma gripe branda [3]. Após a interrupção da parasitemia inicial devido a resposta imune do corpo, o microrganismo pode encistar em diversos tecidos. Em pessoas saudáveis, isso não é um problema, mas os indivíduos HIV-positivos e outros imunocomprometidos estão propensos a desenvolver toxoplasmose cerebral com risco de vida quando a queda do sistema imune permite a reativação dos cistos teciduais viáveis[3]. Se uma mulher gestante contrair uma infecção primária, o parasita pode atravessar a placenta e infectar o feto. Quando isso acontece pode ocorrer abortamento ou parto prematuro, os bebes sobreviventes podem apresentar diminuição permanente da capacidade neurológica[3].

 

1. Os gatos são a principal fonte de infecção humana?

Indiretamente, sim. Os gatos são o hospedeiro definitivo desse parasita, ou seja, eles são os únicos animais nos quais o parasita pode completar seu ciclo de vida, e portanto os únicos animais que excretam oocistos infecciosos. Porém, acredita-se que a maioria das pessoas adquira toxoplasmose mais por meio do consumo de carne mal cozida ou de alimento que tenha sofrido contaminação cruzada proveniente da carne crua do que diretamente a partir dos gatos infectados.

 

2. Como os animais destinados a alimentação vem a ser infectados?

Um gato com toxoplasmose ativa, elimina oocistos em suas fezes, se os oocistos esporulados forem ingeridos por outro animal, resultará em infecção. Os animais destinados a alimentação consomem as fezes de gatos enquanto pastam. Onívoros como o suíno podem contrair a infecção via ingestão de carne, roedores ou pássaros contaminados. Nos animais, com exceção do gato o T. gondii encista-se no tecido muscular após infecção aguda inicial cessar, e estes permanecem viáveis na carne dos animais infectados.

 

3. Qual a probabilidade de uma pessoa ser infectada com Toxoplasmose ao trocar uma caixa sanitária?

Não há probabilidade em absoluto, desde que um certo bom senso e higiene satisfatória sejam praticados. Os oocistos levam um dia ou mais a temperatura ambiente adequada para esporularem e tornarem-se infecciosos. Portanto, a remoção diária e o descarte apropriado das fezes da caixa sanitária impedirão o desenvolvimento do estágio infeccioso, mesmo se o gato estiver eliminando oocistos. Naturalmente, deve-se lavar as mãos de modo rigoroso com água e sabão, sempre após manipulação da caixa sanitária.

 

4. Um gato infectado sempre elimina oocistos?

Um gato infectado tipicamente elimina oocistos por cerca de 3 semanas após a infecção primária. Embora se saiba que a eliminação recorrente pode ocorrer, apesar de rara.

 

5. Um pessoa pode adquirir Toxoplasmose por manipular um gato infectado?

Os gatos que estão eliminando oocistos ativamente raras vezes apresentam diarreia, e as fezes consistentes e normais de gato não contaminam de modo significativo o pêlo.  Se houver contaminação fecal, ela em geral não permanece sobre o pelo do gato o tempo suficiente para que a esporulação ocorra, pois a maioria dos gatos são tão exigentes que se limpam rigorosamente logo após a defecação.

 

6. É seguro que uma gestante possua um gato de estimação?

Sim. As possibilidades dessa mulher contrair toxoplasmose a partir do consumo de carne mal cozida são mais altas do que pelo contato com seu gato. Contudo, a menos que ela saiba  que está imune a toxoplasmose (via teste sorológico), a gestante deve evitar qualquer contato com as fezes do gato, ficando a troca das caixas sanitárias a cargo de outra pessoa, se possível. Caso a gestante precise trocá-las, deve usar luva e trocar as caixas todos os dias, bem como lavar bem as mãos em seguida.

 

7. O que mais a gestante pode fazer pra evitar toxoplasmose?

A gestante não-imune ou de imunidade desconhecida a toxoplasmose, deve evitar contato com o solo (pela possibilidade de contaminação com fezes de gato) e a ingestão de carne crua ou mal cozida. Deve usar luvas ao lidar com horticultura e lavar os vegetais rigorosamente. Se tiver que manipular carne crua, deve ser meticulosa quanto a limpeza (mãos, utensílios de cozinha, superfícies) durante e após a preparação para evitar transferência de cistos viáveis do alimento para a boca.  Os cistos de T. gondii são mortos pelo completo cozimento (68,3°C ou mais) ou pelo congelamento (-28,9°C ou menos) por pelo menos um dia.

 

8. Como as pessoas podem evitar que seus gatos venham a ser infectados pelo T. gondii?

Os gatos domésticos  devem ser alimentados somente com ração comercial ou outros alimentos cozidos. Não devem ser fornecidos  carne ou aves domésticas cruas, vísceras ou ossos. Deve-se manter os gatos de estimação dentro de casa para impedir que pratiquem a caça e revirem lixos.

 

Ou seja, a única forma de se contaminar diretamente através de um gato de estimação que sabidamente esteja eliminando oócitos, é através da ingestão de suas fezes, tendo essas ficado expostas no tempo, suficiente para esporularem.

 

 Maricy Alexandrino – Médica Veterinária   

 

Este texto é um trabalho original do Autor e é protegido pela Lei de Direitos Autorais. Qualquer uso ou reprodução deste texto depende de prévia e expressa autorização

 

Referência Bibliográfica:

 

1. ETTINGER, S. J.; FEELDMAN, E.C.; Tratado de Medicina Interna  Veterinária, 5º ed., Vol.1, Rio de Janeiro: Guanabara 2004, p  434

2. GREENE, C.E.; Infectious Diseases of the Dog and The Cat, 3º ed. Canada: Saunders Elsevier, 2006, p 754-767

3. Adaptado do cap. “Questões frequentes sobre zoonoses, Groves M.G.; Harrigton K.S.; Taboada J.. Em: ETTINGER, S. J.; FEELDMAN, E.C.; Tratado de Medicina Interna  Veterinária, 5º ed., Vol.1, Rio de Janeiro: Guanabara 2004, p 409

 

 

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