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Obesidade em Cães e Gatos

23/05/2017

Obesidade em Cães e Gatos 

A obesidade é definida como excesso na quantidade de gordura corporal. Cães e gatos pesando 15% acima do seu peso ideal são classificados como obesos. Estima-se que a obesidade seja a principal doença nutricional que acomete cães e gatos, atingindo 25% a 40% da população destas espécies, sendo os fatores predisponentes tais como:  redução no gasto de energia (pouca atividade física),  dieta muito palatável com alta densidade calórica  (com excesso de gordura por exemplo), comida servida á vontade, alimentação com restos de alimento caseiro e fornecimento de  petiscos. Além destes, interferem com o ganho de peso: fatores ambientais, taxa metabólica basal,  genética,  sexo, doenças de base e castração. O quadro também pode desenvolver-se em consequência de um distúrbio na ingestão de nutrientes e/ou no gasto de energia, além disso, algumas condições metabólicas (patológicas) estão associadas com o aparecimento da obesidade em cães e gatos: hipotireoidismo, hiperadrenocorticismo, alguns tipos de tumores secretores de insulina, hipersomatotropismo.

O estilo de vida sedentário dos animais de estimação e seus proprietários, podem desempenhar um papel no desenvolvimento  da obesidade. Demonstrou-se que a inatividade é um fator de risco significativo para a obesidade nos estudos realizados tanto em cães como em gatos. Determinadas raças de cães como Labrador, Cocker Spaniel, Dachshund, Beagle, Collie, Sheepdog, Basset Hound, Golden Retriever e Cairn Terrier tendem a ser obesos, o que sugere um componente genético para a obesidade. Assim como verificou-se  que gatos de raça pura, como o Siamês e o Abíssimo, são  mais magros que aqueles de raças mistas.

O papel da castração no desenvolvimento da obesidade em cães e gatos ainda permanece indeterminado. Embora a redução no gasto energético, possivelmente como resultado de redução na atividade e alterações no metabolismo basal, induzidas por mudanças nas concentrações  dos hormônios sexuais e, sem alteração ou aumento na ingestão de alimento, tenham sido propostas. Nos gatos, tanto machos como fêmeas, a castração não apenas diminui o gasto de energia, como também leva a um aumento no consumo de alimento. Este é o motivo pelo qual o gato castrado tem uma probabilidade 3 vezes maior de se tornarem obesos. Dentro de 48 horas após a castração, os gatos aumentam seu consumo diário de comida (26% nos machos e 18% nas fêmeas). Ao mesmo tempo seu gastos de energia cai em 30%. Assim um gato castrado com uma dieta desajustada  recebem uma alimentação que se tornou rica demais para suas necessidades e eles estocam o excesso  de calorias na forma de gordura. O ganho de peso é rápido, dentro de dois meses seguintes a castração, os machos armazenam duas vezes mais gordura que as fêmeas.  Ao eliminar  a secreção dos hormônios sexuais, a castração altera o equilíbrio de um animal que é raramente obeso na natureza.

Segundo relatos, a obesidade é mais comum em cães mais velhos, contudo um estudo verificou que os cães idosos na verdade demonstravam uma redução na condição corpórea.  A atividade física e a massa corpórea magra podem diminuir com a idade, resultando em necessidades energéticas mais baixas, de modo que se o consumo de energia não diminuísse apropriadamente, poderia ocorrer um aumento na gordura e no peso corpóreo.

A obesidade é identificada basicamente pela inspeção visual do animal, pela palpação da quantidade de tecido adiposo no tórax, no dorso e na região pélvica e pela pesagem do animal. Um cão normal deve ter suas costelas facilmente palpáveis  e o contorno corporal deve ter forma de ampulheta quando visto de cima. É mais difícil avaliar a obesidade em gatos, por causa da diferente distribuição de gordura nesta espécie.  Nos gatos pode-se avaliar a circunferência abdominal comparado ao tamanho corpóreo total, bem como palpando os depósitos de gordura na região inguinal (virilha)  e pesando o gato. A maioria dos gatos sadios não obesos pesam cerca de 3,5 a 5 kg, com algumas exceções para  gatos com estrutura óssea  ampla. Em geral, gatos acima de 5,5 Kg são considerados obesos.

O proprietário pode perceber as seguintes alterações no animal  obeso:

  • dificuldade em palpar as costelas
  • ausência de cintura visível
  • necessidade de afrouxar a coleira
  • dificuldade para caminhar
  • locomoção vagarosa
  • respiração curta/ofegante
  • animal dormir mais que o normal

Existe ainda o sistema de escore corporal para cães e gatos, que vai de 1 a 5, no qual o escore 1 representa um animal extremamente magro, o 3 um animal normal  e o 5 um animal obeso.

O animal obeso deve passar por um exame físico completo, além de exames laboratoriais, incluindo hemograma, urinálise, bioquímicos e em alguns casos  exames hormonais, para avaliar a possibilidade de causa de base levando a obesidade ou doença concomitante.

Complicações da obesidade

Assim como no ser humano, nos cães e gatos a obesidade predispõe á doenças ou agrava as pré-existentes, como por exemplo:

  • expectativa de vida diminuida:  Já foi demonstrado através de um estudo que durou cerca de 13 anos e analisou 48 Labradores (Kealy et al) , que a obesidade diminui a longevidade em cães.
  • doenças osteoarticulares: a obesidade leva a problemas ósseos em todas as idades do cão.  Cães filhotes de raça grande, com ingesta excessiva de alimento pode desenvolver osteodistrofia hipertrófica, além de piorar sintomas de displasia coxo femoral. A artrite também pode ocorrer, pois a obesidade aumenta a força sobre as articulações, podendo levar a destruição da cartilagem.  Cães obesos podem exacerbar doenças do disco intervertebral piorando o prognóstico. E de certa forma problemas osteoarticulares tendem a complicar a obesidade, pois os animais com dor ficam mais sedentários devido a restrição de atividade física, instalando um círculo vicioso;
  • distúrbios circulatórios:  a obesidade aumenta o risco de insuficiência cardíaca congestiva  por aumentar as necessidades de perfusão da massa gordurosa desenvolvida;
  • condições respiratórias crônicas:  ocorre restrição do volume pulmonar, devido aos depósitos  de gordura intratorácica, assim como deslocamento do diafragma pela gordura abdominal;
  • diabete melito: cães e gatos obesos podem desenvolver  resistência a insulina endógena, o que pode agravar a intolerância a glicose em animais já predispostos ao diabetes. Os cães podem acabar desenvolvendo diabetes tipo 1 (insulino dependente) e nos gatos obesos pode ocorrer tanto a diabetes tipo 1 como a 2;
  • hipertensão: em condições experimentais demonstrou que aumentos ou reduções moderadas no peso corpóreo aumentam/diminuem a pressão sanguínea arterial média nos cães.
  • problemas dermatológicos:  tais como dermatite de prega cutânea, seborréia e dermatite por malassezia podem ser mais comum em cães obesos. Já em gatos muito obesos, podem ter problemas em fazer a limpeza da pelagem através da lambedura corporal.
  • risco cirúrgico e anestésico aumentado:  O risco anestésico depende da técnica empregada, mas pode haver superdosagem de medicação bem como  recuperação anestésica lenta, pode depósito de drogas lipossolúveis na gordura corporal.  O tempo cirúrgico, por exemplos de uma cirurgia de castração em fêmeas  pode ser muito maior numa cachorra obesa.

Outras doenças que podem ser induzidas pela obesidade:  hiperlipidemia, lipidose hepática, pancreatite

 

Tratamento

O tratamento da obesidade inclui modificação na dieta, exercícios e mudança de comportamento por parte do proprietário.  Para um programa de emagrecimento bem sucedido é necessário 100% da cooperação e aceitação por parte do proprietário, que desempenha papel  essencial no tratamento Todos os membros da família devem  ser convencidos de que existe  um problema de obesidade no animal de estimação e que precisa ser corrigido.

Antes de iniciar o tratamento da obesidade, é necessário descartar ou confirmar doenças concomitantes que possam estar piorando ou complicando o quadro. Bem como analisar a idade, raça, estilo de vida do animal, tipo de alimento ingerido, frequência de alimentação.  Pois a dieta será  baseada na idade do animal, presença ou não de doenças de base ou concomitantes e o grau de obesidade. O peso ideal, seria o peso do animal por volta de 1- 3 anos de idade, ou seguindo padrões raciais conhecidos (veja no final do artigo tabela com Peso ideal por Raça) .

É contra indicado diminuir a ingestão calórica simplesmente reduzindo a quantidade diária de ração consumida normalmente Fazendo isso, o animal poderá apresentar deficiências  de nutrientes essenciais  e não terá sucesso com o emagrecimento. Em um animal que é negado comida (ou que está comendo menos que o ideal), pode-se desenvolver problemas comportamentais como ansiedade (latir em excesso, busca constante por alimentos...), estresse e até agressão. Portanto o alimento para tratamento da obesidade, é adaptado para esta função, suprindo todas as necessidades do animal, em quantidades ideias e ainda assim promovendo emagrecimento. Em geral, tais dietas possuem mais fibras em sua formulação (que levam a saciedade) e menos gorduras.

O emagrecimento de cães e gatos deve ter o acompanhamento constante do veterinário, pois perdas  intensas não são indesejadas, podendo levar a consequências graves ao animais, como lipidose hepática nos gatos. Existe uma porcentagem mínima e máxima desejada de perda semanal, caso o emagrecimento esteja fora do esperado, é feita uma adaptação do tratamento. O animal deve ser pesado semanalmente e reavaliado pelo menos mensalmente pelo veterinário, até completar seu esquema de emagrecimento. O tratamento em geral é longo, pois o desejado é uma perda gradual porém constante de peso, de modo a evitar consequências negativas a perda rápida e/ou consequente ganho de peso após o esquema inicial de tratamento.  Dieta por períodos tão longos quanto 4 – 6  meses (ou até mais)  pode ser necessário. Após atingido o peso ideal estipulado pelo veterinário, o animal então passa para o programa de manutenção do peso ideal.

No caso dos gatos, o ideal é pesá-los uma vez por semana  por 2 meses seguintes a castração, e a seguir 1 vez por mês. Um gato obeso possui a probabilidade 4 vezes  maior de desenvolver diabetes melitus, 3 vezes mais de apresentar problemas articulares, e 2,3 vezes de morrer entre as idades de 8 a 12 anos  Para prevenir o aumento de peso no gato castrado é necessário fornecer  alimentos com pouca gordura, pouco carboidrato como o amido, e uma alta proporção de proteína de alto valor biológico contribui para satisfazer o apetite do gato respeitando suas necessidade carnívoras e preservando massa muscular.

Durante o programa de emagrecimento

  • marque consulta com o veterinário para verificar o peso de seu animal leve-o a clínica para o monitoramento regular durante o programa de perda de peso
  • apenas ofereça a seu animal o alimento recomendado pelo veterinário
  • divida a quantidade total de alimento diário em diversas porções pequenas para ajudar a manter seu animal satisfeito e permitir que a queima calórica ocorra mais rapidamente
  • em vez de restos de comida caseira ou petiscos, agrade seu animal com pequenas porções de alimento dentro das quantidades diárias permitidas
  • certifique-se de que seu animal não está revirando lixeiras ou caçando para obter comida
  • mantenha sempre água limpa, fresca e abundante disponível
  • aumente o nível de atividade física de seu animal através de brincadeiras e caminhadas regulares
  • caso não haja melhora ou ocorra o retorno dos sintomas, entre em contato com seu veterinário.

Dicas de Exercícios para gatos:

  • estimule seu gato a segui-lo quando você vai de um cômodo a outro da casa, sobretudo se você se deslocar escada acima ou abaixo;
  • Use brinquedos para encorajar  seu gato a brincar ou esconda  comida pela casa para que ele ou ela movimente-se "caçando" o alimento;
  • Acenda um facho de luz de lanterna nas paredes para estimular seu gato a se divertir, caçando-o. As ponteiras usadas por professores em aula são uma ótima opção.

Dicas de exercícios para cães (consulte o veterinário antes de qualquer atividade física)

  • faça passeios regulares com seu cão. Caminhada a passos constantes ajudam ele a perder peso;
  • leve seu cão para caminhar em superfícies diferentes como areia ou água, isto oferece resistência adicional; 
  • estimule ele a brincar em casa e no jardim;
  • para cães de raça de faro, caça  muitas brincadeiras podem ser planejadas utilizando estes sentidos, como esconder um pouco de ração dentro de brinquedos apropriados e o estimulando a busca. Frisbees e bolinhas também agradam muitos cães;
  • alguns cães podem se beneficiar de natação;

 

Maricy  Alexandrino - Médica Veterinária 

Este artigo é  trabalho original do autor e é protegido pela lei dos direitos autorais. Qualquer uso ou reprodução deste texto requer prévia e expressa autorização.

 

Veja a seguir uma tabela com pesos referenciais para algumas raças de cães e gatos. Vale lembrar que os pesos sugeridos são médias observadas, devendo sempre levar em consideração o sexo (machos tendem a ser maiores e mais pesados que as fêmeas) e a linhagem do animal.

 

Peso ideal Por Raça*

Gatos

Peso

Abissínio

2-4 kg

Maine Coon

5-7 kg

Pelo curto e longo doméstico

3.5 – 4.5 Kg

Persa

4.5 – 5 Kg

 

 

Raças Miniaturas

Peso

Bichon Frisé

3-6 kg

Chihuahua

1-3 kg

Dachshund Miniatura

4-5 kg

Maltês

2-3 kg

Pequinês

3-6 kg

Poodle Toy

3-7 kg

Yorkshire Terrier

2-3 kg

 

 

Cães Pequenos

Peso

Beagle

8-14 kg

Bulldog Francês

10-13 kg

Dachshund

9-12 kg

Lhasa Apso

6-7 kg

Pastor de Shetland

6-7 kg

Poodle Miniatura

12-14 kg

Pug

6-8 kg

Schnauzer Miniatura

6-7 kg

Scotish Terrier

8-11 kg

Shih Tzu

5-7 kg

West Highland

7-10 kg

Whippet

10-13 kg

 

 

Cães Médios

 

Basset Hound

18-27 kg

Border Collie

14-20 kg

Bulldog Inglês

23-25 kg

Bull Terrier

24-30 kg

Chow Chow

20-32 kg

Cocker Spaniel

13-15 kg

Collie

18-30 kg

Husky Siberiano

16-27 kg

Shar Pei

16-20 kg

 

 

Raças Grandes

Peso

Akita

34-50 kg

Bernesse

40-44 kg

Boxer

25-32 kg

Dálmata

23-27 kg

Dobermann

30-40 kg

Golden Retriever

27-36 kg

Pastor Alemão

28-43 kg

Labrador

25-34 kg

Rottweiler

41-50 kg

Weimaraner

32-39 kg

 

 

Raças Gigantes

Peso

Dogue Alemão

45-55 kg

Mastiff

80-90 kg

São Bernardo

60-90 kg

Terra Nova

50-70 kg

 

 

* fonte: Guia Nutricional Hill`s 2008 e Encyclopedia of Canine Clinical Nutrition (Royal Canin)

 

Referências Bibliográficas:

COLIN, M.; Bem estar e saúde dos gatos castrados.  Waltham Focus:  2005

CARCIOFI, A. C.; PRADA, F.; Obesidade em Cães e Gatos.  Temas de Veterinária, númeo 8. Nestlé Purina

ETTINGER, S.J.; FEELDMAN, E.C.; Tratado de Medicina Interna Veterinária, 5º ed. Vol. 1, Rio de Janeiro: Guanabara, 2004.

NELSON, R.W.; COUTO, C.G.;  Medicina Interna de Pequenos Animais, 2º ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001

PIBOT, P.; BIOURGE. V.; ELLIOTT, D.; Encyclopedia of Canine Clinical Nutrition, 1º ed. Italia: Aniwa SAS, 2006

Guia Nutricional Hill´s  2008  www.hillspet.com

Livreto  Informativo: Controle do Excesso de Peso, Hill´s Prescription Diet.  www.hillspet.com

 

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