Hipertermia e Intermação
Hipertermia e Intermação
Nosso país tropical costuma ter temperaturas altas o ano todo em determinados estados, porém no verão a sensação térmica pode ser mais alta ainda, associada a climas mais úmidos, o que pode ser prejudicial para nossos animais de estimação. Além disso, muitos cães acabam viajando pra locais que não estão acostumados, sendo expostos a temperaturas além da sua rotina, como nas praias por exemplo. E nestas condições todo cuidado deve ser redobrado com relação ao controle da temperatura corporal dos cães, em especial em raças braquicefálicas que já apresentam certeza dificuldade respiratória, como os Bulldogues (Inglês e Francês),Pugs, Boxer, Pequinês, Shih Tzu e qualquer outra raça que possa ser exposta a altas temperaturas.
Hipertermia é o termo usado para descrever qualquer aumento de temperatura central do corpo acima do normal pra espécie em questão. [¹] A temperatura média padrão dos cães varia de 38 a 39,3°C . A hipertermia pode ser classificada em febre verdadeira, dissipação inadequada de calor, hipertermia do exercício, patológica ou farmacológica. Neste artigo abordarei a dissipação inadequada de calor e a hipertermia do exercício que acontecem comumente no verão do nosso país, devido as altas temperaturas ambientais e em alguns casos associadas a imprudência dos responsáveis pelos cães.
A inabilidade de dissipar calor pode ser resultado de fatores endógenos (internos do animal) ou exógenos (fatores externos/ambiental). Os fatores endógenos incluem obesidade, conformação braquicefálica, paralisia de laringe, obstrução de vias aéreas superiores, doença cardiovascular, extremos de idade e doenças do sistema nervoso central. Animais com histórico de intermação são mais predispostos a novos quadros, mesmo em baixas temperaturas e umidade estável.
Fatores exógenos (externos) incluem baixo consumo de água, confinamento em área com baixa ventilação, falta de aclimatação (mudança brusca de ambientes) e alta umidade. Fatores que levam ao aumento na produção de calor que podem causar hipertermia e intermação incluem exercícios, doenças febris, doenças hormonais (hipertireoidismo, feocromocitoma), convulsões ou severo tremor muscular (fasciculação) . Comumente, a intermação pode ocorrer na combinação de diminuição da capacidade em dissipar calor com aumento na produção de calor.[3]
Intermação é a uma forma de perda inadequada de calor [¹], sendo um tipo grave não febril de hipertermia que ocorre quando o mecanismo de dissipação do calor corporal não consegue eliminar o calor de forma adequada [1,2,4]. Tipicamente associado com temperaturas elevadas (41°C) sem sinais clínicos de inflamação, a intermação pode lesionar diversos órgãos. Pode ocorrer em qualquer raça, mas especialmente as de pelo longo, grande porte e nariz achatado (braquicefálicos) [1,2], pode ocorrer em qualquer idade mas em geral é mais comum em cães jovens e menos em idosos. [2]
A intermação pode ocorrer rapidamente no cão em especial em ambientes fechados com pouca ventilação (por exemplo dentro do carro com janelas fechadas ou câmara de secagem de banho e tosa) ou mesmo em dias apenas moderadamente quentes. As temperaturas ambientais dentro de um carro fechado exposto ao sol pode ultrapassar 48°C em menos de 20 minutos, mesmo que a temperatura externa seja apenas 23°C. [1]
Patofisiologia [3]
Num primeiro momento da hipertermia, o débito cardíaco aumenta devido a vasodilatação periférica e diminuição da resistência vascular. A medida que a hipertermia progride, ocorre congestão sanguínea no baço o que causa diminuição do sangue circulante, resultando em hipotensão (baixa da pressão sanguínea), e então o débito cardíaco começa a cair.
Com a diminuição do volume de sangue circulante, as medidas do organismo pra controle de calor, começam a falhar (radiação e convecção) causando uma elevação da temperatura corporal e intermação. Esse aumento global de temperatura começa lesionar outros órgãos, como rins, fígado, aparelho gastrointestinal, sistema nervoso central, com taxa de mortalidade relatada nos cães variando de 36 a 50% nestes estágio.
Sintomas [2,4]
Causas e fatores de risco [2,3]
Primeiros Socorros
Reconhecer o quanto antes os sintomas de intermação é a chave pra uma adequada recuperação. Se o aumento da temperatura do seu cão estiver relacionado a variação ambiental de temperatura, como clima, locais fechados/sem ventilação, câmara de secagem (banho e tosa) ou exercício excessivo, o primeiro passo imediato será retirar de tal local e tentar reduzir a temperatura corporal.[2]
É preciso resfriar o corpo do paciente imediatamente para evitar o desfecho fatal. Algumas técnicas de resfriamento externo incluem molhar o animal com água fresca ou imergir todo o corpo do animal em água fria/fresca porém não gelada (pois se a água estiver muito gelada haverá tendência a vasoconstrição periférica, que inibe a perda de calor e torna mais lento o processo de resfriamento e o quadro se agrava. [¹] envolver o cão em toalha gelada e uso de ventilador próximo ao cão, mas suspender tais processos assim que a temperatura chegar a 39 graus (controlando com uso de termômetro retal cada 5 minutos ) de modo evitar que a temperatura abaixe além do normal pra espécie, levando a hipotermia. [1,2,3,4] Baixar a temperatura de forma brusca pode também causar outros problemas de saúde como edema cerebral, portanto a redução gradual da temperatura é o desejado.
O mesmo serve para água de beber. Permita que seu cão beba água voluntariamente (mas não force! pois ele poderá fazer falsa via do liquido a depender do nível de consciência). Mas novamente, não ofereça água gelada/com gelo, mas sim água fresca a temperatura ambiente. Mesmo que o cão pareça recuperado ele deve ser levado ao veterinário imediatamente, para que seja examinado com relação a hidratação, nível de consciência, presença de outros sinais clínicos e lesões em órgãos específicos. [4]
Tratamento
Em todo caso de intermação o objetivo do tratamento é aumentar a perfusão dos órgãos, para isso o melhor método é através de fluidoterapia venosa, no qual o veterinário irá escolher qual melhor produto a ser utilizado bem como a quantidade e velocidade de fluido necessário para cada caso. A progressão da lesão do órgãos depende da duração da hipertermia. [3]
Deverá ser avaliado a necessidade de controlar a temperatura até o nível de estabilidade caso ainda não o tenha atingido, bem como monitorar continuamente. Vale lembrar que quadro de intermação não responde a antipiréticos usados em caso de febre verdadeira [¹] Além da fluidoterapia, poderá ser necessário oxigenioterapia e o cão será avaliado com relação as alterações decorrentes do colapso vascular e choque (principalmente nos casos de hipertermia grave – acima de 41°C)[¹]. O cão também deverá ser monitorado com relação a dificuldade respiratória, insuficiência renal, alterações cardíacas, distúrbios de coagulação e outras complicações do quadro. Complicações como alteração de hemograma, falência renal, edema cerebral deverão ser imediatamente identificados e tratados. [²] Para isso o veterinário poderá solicitar exames de sangue antes e após o tratamento imediato, bem como poderá ser necessário uma avaliação cardíaca com eletrocardiograma.[²]. A aplicação de enemas com soro ou lavagem gastrointestinal caiu em desuso devido a vasoconstrição do aparelho gastrointestinal e o risco aumentado de isquemia e translocação bacteriana. [3]
Na maioria dos casos o cão deverá ficar internado até estabilização do quadro, e poderá precisar de tratamento intensivo por diversos dias caso tenha ocorrido algum dano nos órgãos citados. [2,3]
Cães com quadros moderados, quando prontamente atendidos, geralmente se recuperam sem maiores danos. Quadros severo podem causar lesões em órgãos e podem precisar de tratamento a longo prazo. [4]
Prevenção [2,4]
Maricy Alexandrino - Médica Veterinária
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Referências Bibliográficas
1.ETTINGER, S.J.; FEELDMAN, E.C.; Tratado de Medicina Interna Veterinária, 5º ed. Vol. 1, Rio de Janeiro: Guanabara, 2004.
2. NELSON, K. Heat Stroke and Hyperthermia in Dogs, disponível em http://www.petmd.com/dog/conditions/cardiovascular/c_dg_heat_stroke ultimo acesso em 17/01/2017 as 16:30.
3. POWELL, L. Canine Heatstroke, em NAVC Clinician’s Brief, 2008 disponível em http://www.cliniciansbrief.com/ ultimo acesso em 18/01/2017
4. SMITH & FOSTER , Heatstroke (Hyperthermia), disponível em www.peteducation.com/article.cfm?c=2+1677&aid=1683 último acesso em 17/01/2017 as 16:20
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