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Erliquiose Canina (doença do carrapato)

24/11/2016

Erliquiose Canina

A erliquiose, ou popularmente chamada de "doença do carrapato" é uma doença grave que acomete os cães, sendo  transmitida pela picada carrapato vermelho. Mas, antes de falar sobre a doença, vamos conhecer um pouco mais sobre o transmissor da erliquiose:

O carrapato que transmite tal doença recebe o nome de Riphicephalus sanguineus ou carrapato vermelho do cão. Eles possuem hábito nidícola  vivendo em ninhos, toca ou abrigo de seus hospedeiros. Gostam de lugares quentes e escuros. Um fêmea adulta pode ovipor em média 4.000 ovos que eclodem em 2 a 7 semanas, liberando as larvas  que irão se alimentar  por 3 a 12 dias, estas lavas alimentadas caem do hospedeiro e permanecem fora por 6 a 90 dias quando se transformam em ninfa. As ninfas também se alimentam por um curto período 3-10 dias, após alimentadas voltam ao ambiente para se tornar adulto. Geralmente para completar seu ciclo necessitam de 3 hospedeiros, para larva, ninfa e adulto, mas o carrapato pode completar seu ciclo de vida com apenas um animal como hospedeiro se desprendendo do animal ao final de cada repasto sanguíneo (alimentação). Parasitam principalmente a cabeça, pescoço, dorso, orelhas e entre os dedos. São muito comuns em áreas urbanas.

Riphicephalus sanguineus - carrapato vermelho do cão. Fêmea "grávida" prestes a ovipor

 

Se o complicado ciclo de vida for interrompido, o carrapato pode  sobreviver por longos períodos ou hibernar no inverno, podendo sobreviver dentro de casa devido suas baixas necessidades de umidade. Além da erliquiose este parasita também transmite aos cães a Babesiose e a Hepatozoonose.

O R. sanguineus (carrapato vermelho)  transmite a Erliquiose para os cães  pela saliva enquanto se alimenta com o sangue do animal. A doença tem um período de incubação de 1-3 semanas. A Erlichia spp. é um microrganismo (riquétsia) intracelular obrigatório e existe várias espécies de Erlichia, sendo a Erlichia canis a que mais comumente  afeta os cães. O microorganismo não é transmitido via transovariana no carrapato, portanto somente um carrapato alimentando-se em um cão doente é capaz de tornar-se infectado e perpetuar a doença. A doença também pode ser transmitida aos cães por transfusões sanguíneas.

A erliquiose consiste em 3 fases principais:

  • aguda: inicia-se de 1 a 3 semanas após  infecção. Durante este período o microrganismo se multiplica dentro de determinadas células e em alguns órgãos  como fígado, baço e linfonodos, levando a aumento destes tecidos. As células infectadas são transportadas via sangue para outros órgãos especialmente pulmões,  rins e meninges induzindo a vasculite  e infecção tecidual subendotelial. Ocorre também consumo, sequestro e destruição de plaquetas. Esta fase pode durar em média  2-4 semanas, se o animal conseguir eliminar o microrganismo;
  • sublclínica: ocorre  de 6 a 9 semanas  após a inoculação. O cão se torna portador do microorganismo, porém sem manifestar sinais de doença. Esta fase pode durar até 5 anos após infecção, podendo evoluir para fase crônica;
  • crônica: nesta fase é onde muitas alterações clínicas se desenvolvem, devido a reação imune do organismo contra o micro-organismo.

 

Os sinais clínicos da erliquiose variam de acordo com a fase da doença,  condições imunes do hospedeiro e tipo de cepa e espécie de Erlichia.

Na fase aguda o cão pode manifestar sinais de febre, anorexia, perda de peso, presença de carrapatos, petéquias (pontos avermelhados na pele ou mucosa), epistaxe (sangramento nasal), hematúria (presença de sangue na urina), edema de membros e aumento de linfonodos.

Petéquias em região abdominal de cão. FONTE: Today´s Veterináry Practice 

Petéquias em face interna de orelha. FONTE: Today´s Veterináry Practice 

 

Já na fase crônica os sinais em sua maioria são causados por uma reação imune do organismo tentanto combater o parasita, o cão pode apresentar: depressão, perda de peso, mucosas pálidas devido a anemia intensa,  dor abdominal, sangramento nasal, diarreia escura, vômito, lesões oculares (sangramentos oculares, uveíte), aumento de órgãos (baço, fígado), alterações neurológicas (compatíveis com inflamação de meninges), aumento no consumo de água e frequência de urina (secundário a lesão renal)  entre outros sinais, caracterizam cães  que desenvolvem  manifestações da doença durante a infecção crônica. Devido a imunossupressão infecções bacterianas secundárias poderão aparecer.

Mucosa extremamente pálida num cão. FONTE http://vetneuromuscular.ucsd.edu/cases/2006/nov06.html

Os sinais clínicos da fase crônica  são discretos  a ausentes  em alguns cães e graves em outros cães, não é raro em áreas endêmicas  detectar alterações no exame de sangue  compatíveis com infecção crônica por E.canis  em cães saudáveis que estejam  apenas fazendo exames de rotina.

O diagnóstico é feito através do histórico (presença de carrapatos ou área endêmica da doença), sinais clínicos e achados de exames laboratoriais. A Erlichia canis afeta determinadas células do sangue, levando a um baixo número circulante delas e tal achado em associação aos sinais clínicos pode ser sugestivo da doença. Contagem variadas de leucócitos na fase aguda, e a anemia estão relacionados a supressão da produção de eritrócitos e a destruição acelerada  destas células.  Exames bioquímicos e urinálise são importantes para detectar alterações precoces em outros órgãos, principalmente os rins.

Exames mais específicos como sorologia, esfregaços sanguíneos de ponta de orelha e PCR são úteis para se chegar ao diagnóstico. Alguns cães podem estar concomitantemente infectados pela erliquiose e babesiose, ou mesmo hepatozoonose, visto todas serem transmitidas pelo mesmo  carrapato.

A erliquiose é uma doença fatal se não tratada! O tratamento tem a intenção de combater o micro-organismo, bem como tratar as lesões por ele causada. A terapia básica consiste em antibioticoterapia via oral com droga específica durante 21-28 dias. Em alguns casos pode ser necessário uso de droga injetável aplicada a cada 7-15 dias. Dependendo da gravidade dos sinais o cão precisará de internamento para fluidoterapia e transfusão sanguínea. O sucesso do tratamento irá depender da fase da doença e gravidade dos sinais que o cão apresenta,  visto que em estágios avançados da erliquiose pode ocorrer aplasia de medula, que é uma condição gravíssima.

O controle da infestação dos carrapatos é parte essencial do tratamento, para evitar uma recidiva da doença, pois o cão não se torna "imune" após a infecção, e com isso caso seja novamente picado por um carrapato infectado, poderá adoecer  de novo.  Como a erliquiose  não é transmitida via transovariana no carrapato, a doença pode ser eliminada   no meio ambiente pelo controle dos carrapatos e pelo tratamento de todos os cães por toda uma geração de carrapatos.  O R. sanguineus pode transmitir a erliquiose por aproximadamente 155 dias.

 

Maricy Alexandrino – Médica Veterinária

 

Este texto é um trabalho original do Autor e é protegido pela Lei de Direitos Autorais. Qualquer uso ou reprodução deste texto depende de prévia e expressa autorização.

 

 

Referências Bibliográficas:

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SCOTT, D.W.; MULLER, W.H.; GRIFFIN, C.E.; Muller & Kirk, Dermatologia de Pequenos Animais, 5º ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996

TILLEY , L. P.; SMITH Jr.; F.W.K; Consulta Veterinária em 5 minutos: Espécies Canina e Felina,  2º ed. São Paulo: Manole, 2003

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