Dor: como identificar no seu animal de estimação
Dor, como identificar no seu animal de estimação?
Esta é uma pergunta comumente feita por proprietários preocupados! E é natural tentar entender o que o animal está sentindo, por isso é correto acreditar que todo procedimento que causaria dor em humanos também causará dor nos animais.
A dor pode ser definida como a percepção de uma sensação desagradável originária de uma região específica do corpo. Ainda que em geral seja considerada ruim, a dor normalmente só ocorre quando há uma lesão tecidual real ou potencial, e na maioria das vezes serve como um alarme. Que de acordo com a experiência individual de dor poderá evitar o estímulo potencialmente prejudicial. Além de ser desagradável a dor pode ter efeitos prejudiciais sobre outros sistemas orgânicos, interferir na função imune, aumentar o metabolismo tecidual ou diminuir função respiratória.
Nos animais a dor em geral está associada a inflamação ou traumatismo tecidual. É raro um animal ser levado ao veterinário com dor generalizada, mas sem qualquer indício de fonte de dor. Com frequência uma história de traumatismo fornece uma base importante para avaliação diagnóstica adicional. Da mesma forma, uma história que exclua traumatismo permite que o clínico se concentre em outros processos patológicos como doenças degenerativas, neurogênicas, viscerais e neoplásicas (câncer). Os cães e gatos podem demonstrar a dor de várias maneiras, podendo apresentar alterações físicas e/ou comportamentais. Há ainda os animais que mesmo sofrendo de dor grave podem não manifestar nenhum sinal específico. Embora existam traços típicos da espécie, é frequente haver variação na resposta de um indivíduo a estímulos dolorosos, o que dificulta a interpretação do observador.
As alterações comportamentais associadas a dor incluem uma postura agressiva ou submissa, isolamento ou desinteresse com relação ao ambiente, perda do comportamento de saudação, depressão, agitação, inquietação, alteração nos hábitos de cuidado consigo mesmo, anorexia, insônia, alteração da expressão facial e vocalização.
Os gatos com dor são geralmente silenciosos, mas podem rosnar ou silvar se provocados. Pode haver uma perda de apetite e tendência a se esconder. A postura corporal se torna tensa e o gato pode sentar curvado/ deitado sobre seu peito e relutando em se esticar. Um gato com dor severa pode uivar e demonstrar alterações de comportamento como desesperadas tentativas de fuga. Lambedura constante muitas vezes também pode ser associada com dor, mas comumente o gato apresentará uma pelagem descuidada com alteração do seu comportamento normal de lambedura/banho. Pode ocorrer ofego, aumento do pulso e dilatação das pupilas.
Cães com dor geralmente se apresentam quietos e menos alertas com movimentos tensos e sem disposição em se movimentar. O cão com dor severa pode deitar parado e adotar postura “agachada”. Numa dor menos severa ele pode parecer inquieto. Pode haver perda de apetite, tremores, aumento dos movimentos respiratórios e ofego. Latidos são improváveis, o cão costuma mais choramingar ou uivar especialmente se deixados sozinhos. Podem rosnar sem causa aparente, morder ou arranhar as regiões dolorosas que podem se tornar um movimento repetitivo principalmente quando manipulado.
Há uma grande variação individual na reatividade de um animal a estímulos dolorosos, em sua resposta a dor e em seu comportamento. Além disso animais de matilha e animais que são presas potenciais podem mascarar sinais de enfermidade e desconforto. Cães podem continuar abanar suas caudas e gatos podem continuar ronronar, mesmo que estejam sofrendo de dor intensa. Portanto uma maneira prática e segura de proceder no tratamento de dor é considerar que os animais provavelmente sentem dor em boa parte das situações que uma pessoa sentiria.
Como já foi dito, tanto em cães como em gatos sinais de desconforto, posturas corporais, expressões aflitas e tentativas de evitação ou fuga podem ser indicativos de dor, em especial quando comparados com comportamentos expressivos e posturas como solicitar atenção, ganir ou ronronar e esfregar a cabeça que podem ser indicativos de alívio da dor. Por outro lado, alterações de comportamento, como vocalização e agressão não são específicas da dor e podem estar associadas com muitos outros estímulos. Qualquer alteração no comportamento, desejável ou não, pode ser indicativa de dor ou doença. Por exemplo, um animal pode se tornar mais afetuoso e “apegado” ou menos interativo e irritável ou até vocalizar de forma crescente ou decrescente.
Ao perceber que seu cão ou gato aparentemente está com dor, a primeira coisa a ser feita é levá-lo para uma consulta veterinária. Após examinar a postura corporal e comportamento do animal o veterinário irá fazer um exame físico completo e nele poderá observar salivação, dilatação de pupila, aumento de frequência cardíaca e respiratória, inchaço local, claudicação (mancar de algum membro), dor a palpação e manipulação bem como identificação de áreas com hiperalgesia (resposta dolorosa exagerada a um estímulo nocivo) ou alodinia (dor provocada por estímulos que normalmente não a causariam), que são sinais clínicos indicativos de dor. A postura corporal pode estar alterada para proteger uma região lesionada ou o animal pode recusar-se a deitar. Alguns animais podem estar tão mal a ponto de não exibir tais comportamentos e a ausência de resposta a uma lesão ou estado mórbido que racionalmente seria considerado doloroso, não deve ser interpretada como o paciente não tendo dor. Após exame físico o veterinário poderá solicitar exames de imagem, como por exemplo raio-x, ultra-som além de outros de acordo com a suspeita clínica.
Vale lembrar que a dor pode ser classificada como aguda (poucas horas do início) ou crônica (duração de dias) e que comportamentos característicos de uma dor aguda podem ser diferentes daqueles associados a dor crônica. A dor crônica costuma estar associada a alterações no comportamento que podem ser observadas pelo proprietário na rotina do cão ou gato, como recusa em se exercitar ou realizar certas atividades físicas, modificações no apetite, nos padrões de sono, hábitos de eliminação e comportamento geral. Os achados do exame físico são semelhantes aos encontrados na dor aguda, mas também podem incluir o resultado de falta de uso como atrofia muscular ou evidência de reatividade tecidual crônica a um processo inflamatório, como hiperplasia ou fibrose.
Tratamento
Embora a eliminação completa da dor seja o objetivo da analgesia isso pode não acontecer. Uma meta mais alcançável para a analgesia é reduzir a dor e permitir que o animal repouse com conforto,reconhecendo-se que a estimulação de uma área lesada em geral resulta na percepção da dor aguda. O primeiro passo é corrigir a causa da dor, quando possível como por exemplo correção de fraturas, imobilizações, cirurgias. Então, medicações analgésicas (ou seja, que reduzem a dor) e/ou anfinflamatórias serão prescritas de acordo com a necessidade de cada caso e o tempo de tratamento irá variar de acordo com a causa do problema, bem como a via de aplicação do medicamento (injetável ou via oral)
Jamais medique seu animal por conta própria caso suspeite que ele esteja com dor! Ao invéz de ajudar você pode estar complicando ainda mais um caso clínico, e dificultando o trabalho do veterinário.
RESUMO
Sinais comportamentais de dor:
Sinais físicos/clínicos de dor:
Texto traduzido e adaptado por Maricy Alexandrino, a partir do artigo Is my pet in pain? Publicado na apostila “26º A Vets View Articles” por New Zealand Veterinary Association Inc. em setembro de 2005.
Este texto é um trabalho original do Autor e é protegido pela Lei de Direitos Autorais. Qualquer uso ou reprodução deste texto depende de prévia e expressa autorização.
Referencia Bibliografica
LANDSBERG G., HUNTHAUSEN W., ACKERMAN L.; Problemas Comportamentais do Cão e do Gato, 2º ed. São Paulo: Roca, 2005
Manejo da dor Aguda (Acute Pain Management) Kirk´s Current veterinary Therapy vol XIV – John D. Bonagura e David C. Twedt, Saunders, EUA 2009)
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