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Doença do Disco Intervertebral

19/06/2017

Doença do Disco intervertebral (degenerativo)

 

A coluna espinhal é composta por vários pequenos ossos, denominados vértebras, que estão alinhados como blocos de construção. Um orifício no centro de cada vértebra  forma um túnel no qual  fica a medula espinhal, que é extremamente importante, pois é ela que transporta  as mensagens do cérebro  para o restante do organismo. Porém é uma estrutura muito delicada, e o fato de ser envolvida por vértebras  ósseas ajuda a protege-la. Entre cada par de vértebras, logo abaixo da medula espinhal, está  um pequeno coxim ("almofada") denominado disco intervertebral, estes discos protegem as vértebras do atrito umas com as outras e fornecem flexibilidade  a espinha durante o movimento.

Como parte do processo normal do envelhecimento, esses discos deterioram-se resultando na assim chamada doença degenerativa do disco intervertebral. Normalmente cada disco consiste em um anel fibroso externo e um centro gelatinoso interno. Com a idade esta estrutura modifica sua consistência:  o anel fibroso externo torna-se  fragmentado,  e o  centro gelatinoso endurece. O anel fibroso externo fragmentado pode não ser mais capaz de manter este centro fixo, e o movimento da vértebra no mesmo lado pode repentinamente comprimir o disco pra fora de sua posição. Infelizmente pode ocorrer deste material mover-se para cima e repousar contra a medula espinhal, lesando-a no processo (extrusão). Este "escorregão" do disco (hérnia de disco) frequentemente ocorre de modo explosivo, causando lesão significativa a medula espinhal, além de muita dor. Pode ocorrer extrusão ou protrusão de disco intervertebral em direção ventral (para baixo), dorsal (para cima) ou lateral (para o lado).  As discopatias intervertebrais constituem um dos distúrbios neurológicos mais comuns diagnosticados em pacientes veterinários, sendo que aproximadamente 10% dos pacientes afetados  podem ficar tetraplégicos.

Existem 2 tipos básicos de degeneração do disco intervertebral:  condroide e fibroide, que geram 2 tipos distintos de doença  do disco. 

  1. Degeneração condroide ou Hansen tipo 1
  • o núcleo gelatinoso, perde a capacidade de ligação com a água, tornando-se calcificado
  • geralmente ocorre em raças de pequeno porte, principalmente as condrodistróficas como Dachshund, Basset Hound, Shih Tzu, Pequinês, Welsh Corgi, além do Lhasa Apso, Beagle, Cocker  etc.  (sendo sem dúvida o Dachshund  a raça mais comumente afetada)
  • ocorre em cães com mais de 2 anos de idade, sendo a média para os  Dachshunds entre 3 a 6 anos. Em Bulldogs Franceses observou-se que a ocorrência pode ser mais precoce,  entre 2 e 4 anos de idade.  Já nos gatos, foi observada em estudo que pode ocorrer por volta dos 8 a 9 anos de idade
  • gera sinais de rápida evolução (minutos a dias)

 

      2.Degeneração fibroide ou Hansen tipo II

  • ocorre espessamento progressivo do anel fibroso dorsal  que protrui dorsalmente  para o interior do canal medular. 
  • pode ocorrer em raças caninas maiores, e  não condrodistróficas,   sendo as raças de grande porte  mais relatadas o Pastor Alemão, Labrador, Doberman e Rottweiler. 
  • costuma acometer cães mais velhos, acima de 5 anos de idade
  • provoca sinais de evolução mais crônico (semanas, meses a anos)

Porém qualquer um dos tipos de discopatia pode estar presente em qualquer raça de cão e gato

As alterações  degenerativas podem ocorrer em qualquer disco intervertebral,  porém são mais comuns na coluna cervical (pescoço), torácica caudal e lombo-sacra (região de quadril/cauda). Sendo que as discopatias cervicais respondem por aproximadamente 15% de todas as extrusões de disco caninas.  A gravidade do dano a medula espinhal causada pela extrusão, pode estar relacionada a velocidade do ocorrido, duração da compressão e quantidade de material extravazado.  

Os sinais clínicos dependem do local da lesão espinhal e de sua gravidade. A dor intensa é uma característica no animal com doença do disco intervertebral (maior no quadro agudo) e com frequência a lesão da medula espinhal interfere nas funções normais das patas dianteiras e/ou traseiras (dependendo da localização do rompimento do disco). Com isso, além da dor o cão ou gato acometido pode estar claudicante (mancando), incoordenado e/ou paralisado. Estes sinais (dor, incoordenação e possivelmente paralisia) indicam que o cão ou gato possui um problema que esta acometendo a medula espinhal,  mas não a localização exata ou causa do problema.  A doença do disco degenerativa, um tumor na medula espinhal ou uma infecção podem todos produzir sintomas semelhantes, por isso são necessários exames para determinar a localização exata e a causa do problema,  bem como para que o veterinário possa decidir qual a terapia apropriada.

Radiografia de coluna, análise de líquido cerebrospinhal e mielografia são alguns dos exames importantes a serem realizados. A mielografia, é um estudo com raio-x contrastado, no qual um contraste ("corante") é injetado no canal medular da coluna com animal sob anestesia geral. A imagem obtida com esta técnica permite a identificação de qualquer material que esteja  avançando ou comprimindo a região da medula espinhal. Atualmente exames mais modernos como tomografia e ressonância magnética já se encontram disponíveis para área veterinária, sendo muito mais sensíveis e específicos para determinar local e gravidade de lesão em medula.

Na maioria dos casos  a doença do disco é um problema  que exige cirurgia (emergência)  para remoção do material do disco  que está comprimindo a medula espinhal, mas em alguns casos é possível tratamento clínico (sem cirurgia). Para estes animais, a administração de determinadas drogas num período de até 8 horas do aparecimento dos sinais clínicos, pode favorecer uma melhor recuperação, também é indicado confinamento rigoroso  em gaiola/caixa de transporte e imobilização. Em geral este tipo de tratamento é feito no primeiro surto de dor e caso o animal ainda permaneça com movimento nos membros (sem paralisia). Embora o confinamento rigoroso não corrija a compressão, pode reduzir temporariamente alguma dor, diminuir o edema  ao redor da medula espinhal  e permitir ao disco rompido "curar-se". Prós e contras de ambas as abordagens (clínica x cirúrgica) devem ser analisadas e discutidas caso a caso, de acordo com sinais clínicos e evolução do quadro.

A medida que o tempo passa não é raro que os animais tratados sem cirurgia  sofram repetidos ataques de dores, claudicação e paralisia, a medida que mais material do disco escorrega  e comprime a medula.  Em cada crise da doença do disco, a medula sofre uma lesão  permanente adicional. A remoção cirúrgica do material do disco do canal espinhal, é o único tratamento que fornece recuperação rápida e máxima da função da medula espinhal.

Para os animais que passam pelo procedimento cirúrgico, a rapidez na recuperação e a extensão na qual  a função normal das patas é recuperada depende de muitos fatores, incluindo o grau da lesão a medula espinhal e o tempo que a medula ficou comprimida pelo material do disco. Os animais que demonstram sinais neurológicos graves (pouca sensibilidade para dor profunda nos membros), que apresentem início rápido dos sintomas e demoram um longo período para realizar a cirurgia, geralmente tem um período prolongado de recuperação e podem ter variados graus de lesões permanentes, ou podem mesmo não recuperar o movimento.

Portanto a menor suspeita de dor ou lesão de coluna no seu cão, o veterinário deverá ser consultado imediatamente, pois quanto mais precoce a intervenção, maiores podem ser as chances de recuperação.

 

Maricy Alexandrino – Médica Veterinária

 

* Informativo adaptado a partir a partir do texto:  "Séries de Informação ao Ciente" – Doença do Disco,  Richard  A. LeCounteur. Em: ETTINGER, S.J.; FEELDMAN, E.C.; Tratado de Medicina Interna Veterinária, 5º ed. Vol. 2, Rio de Janeiro: Guanabara, 2004.

 

Referência Bibliográfica:

DEWEY, C.W.; COSTA, R. C.; Neurologia canina e felina: guia prático, 1°ed. São Paulo: Editora Guará, 2017

FOSSUM, T. W.;  Cirurgia de Pequenos Animais,  1º ed São Paulo: Roca, 2002

NELSON, R.W.; COUTO, C.G.;  Medicina Interna de Pequenos Animais, 2º ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001

 

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