Doença do Disco Intervertebral
Doença do Disco intervertebral (degenerativo)
A coluna espinhal é composta por vários pequenos ossos, denominados vértebras, que estão alinhados como blocos de construção. Um orifício no centro de cada vértebra forma um túnel no qual fica a medula espinhal, que é extremamente importante, pois é ela que transporta as mensagens do cérebro para o restante do organismo. Porém é uma estrutura muito delicada, e o fato de ser envolvida por vértebras ósseas ajuda a protege-la. Entre cada par de vértebras, logo abaixo da medula espinhal, está um pequeno coxim ("almofada") denominado disco intervertebral, estes discos protegem as vértebras do atrito umas com as outras e fornecem flexibilidade a espinha durante o movimento.
Como parte do processo normal do envelhecimento, esses discos deterioram-se resultando na assim chamada doença degenerativa do disco intervertebral. Normalmente cada disco consiste em um anel fibroso externo e um centro gelatinoso interno. Com a idade esta estrutura modifica sua consistência: o anel fibroso externo torna-se fragmentado, e o centro gelatinoso endurece. O anel fibroso externo fragmentado pode não ser mais capaz de manter este centro fixo, e o movimento da vértebra no mesmo lado pode repentinamente comprimir o disco pra fora de sua posição. Infelizmente pode ocorrer deste material mover-se para cima e repousar contra a medula espinhal, lesando-a no processo (extrusão). Este "escorregão" do disco (hérnia de disco) frequentemente ocorre de modo explosivo, causando lesão significativa a medula espinhal, além de muita dor. Pode ocorrer extrusão ou protrusão de disco intervertebral em direção ventral (para baixo), dorsal (para cima) ou lateral (para o lado). As discopatias intervertebrais constituem um dos distúrbios neurológicos mais comuns diagnosticados em pacientes veterinários, sendo que aproximadamente 10% dos pacientes afetados podem ficar tetraplégicos.
Existem 2 tipos básicos de degeneração do disco intervertebral: condroide e fibroide, que geram 2 tipos distintos de doença do disco.
2.Degeneração fibroide ou Hansen tipo II
Porém qualquer um dos tipos de discopatia pode estar presente em qualquer raça de cão e gato
As alterações degenerativas podem ocorrer em qualquer disco intervertebral, porém são mais comuns na coluna cervical (pescoço), torácica caudal e lombo-sacra (região de quadril/cauda). Sendo que as discopatias cervicais respondem por aproximadamente 15% de todas as extrusões de disco caninas. A gravidade do dano a medula espinhal causada pela extrusão, pode estar relacionada a velocidade do ocorrido, duração da compressão e quantidade de material extravazado.
Os sinais clínicos dependem do local da lesão espinhal e de sua gravidade. A dor intensa é uma característica no animal com doença do disco intervertebral (maior no quadro agudo) e com frequência a lesão da medula espinhal interfere nas funções normais das patas dianteiras e/ou traseiras (dependendo da localização do rompimento do disco). Com isso, além da dor o cão ou gato acometido pode estar claudicante (mancando), incoordenado e/ou paralisado. Estes sinais (dor, incoordenação e possivelmente paralisia) indicam que o cão ou gato possui um problema que esta acometendo a medula espinhal, mas não a localização exata ou causa do problema. A doença do disco degenerativa, um tumor na medula espinhal ou uma infecção podem todos produzir sintomas semelhantes, por isso são necessários exames para determinar a localização exata e a causa do problema, bem como para que o veterinário possa decidir qual a terapia apropriada.
Radiografia de coluna, análise de líquido cerebrospinhal e mielografia são alguns dos exames importantes a serem realizados. A mielografia, é um estudo com raio-x contrastado, no qual um contraste ("corante") é injetado no canal medular da coluna com animal sob anestesia geral. A imagem obtida com esta técnica permite a identificação de qualquer material que esteja avançando ou comprimindo a região da medula espinhal. Atualmente exames mais modernos como tomografia e ressonância magnética já se encontram disponíveis para área veterinária, sendo muito mais sensíveis e específicos para determinar local e gravidade de lesão em medula.
Na maioria dos casos a doença do disco é um problema que exige cirurgia (emergência) para remoção do material do disco que está comprimindo a medula espinhal, mas em alguns casos é possível tratamento clínico (sem cirurgia). Para estes animais, a administração de determinadas drogas num período de até 8 horas do aparecimento dos sinais clínicos, pode favorecer uma melhor recuperação, também é indicado confinamento rigoroso em gaiola/caixa de transporte e imobilização. Em geral este tipo de tratamento é feito no primeiro surto de dor e caso o animal ainda permaneça com movimento nos membros (sem paralisia). Embora o confinamento rigoroso não corrija a compressão, pode reduzir temporariamente alguma dor, diminuir o edema ao redor da medula espinhal e permitir ao disco rompido "curar-se". Prós e contras de ambas as abordagens (clínica x cirúrgica) devem ser analisadas e discutidas caso a caso, de acordo com sinais clínicos e evolução do quadro.
A medida que o tempo passa não é raro que os animais tratados sem cirurgia sofram repetidos ataques de dores, claudicação e paralisia, a medida que mais material do disco escorrega e comprime a medula. Em cada crise da doença do disco, a medula sofre uma lesão permanente adicional. A remoção cirúrgica do material do disco do canal espinhal, é o único tratamento que fornece recuperação rápida e máxima da função da medula espinhal.
Para os animais que passam pelo procedimento cirúrgico, a rapidez na recuperação e a extensão na qual a função normal das patas é recuperada depende de muitos fatores, incluindo o grau da lesão a medula espinhal e o tempo que a medula ficou comprimida pelo material do disco. Os animais que demonstram sinais neurológicos graves (pouca sensibilidade para dor profunda nos membros), que apresentem início rápido dos sintomas e demoram um longo período para realizar a cirurgia, geralmente tem um período prolongado de recuperação e podem ter variados graus de lesões permanentes, ou podem mesmo não recuperar o movimento.
Portanto a menor suspeita de dor ou lesão de coluna no seu cão, o veterinário deverá ser consultado imediatamente, pois quanto mais precoce a intervenção, maiores podem ser as chances de recuperação.
Maricy Alexandrino – Médica Veterinária
* Informativo adaptado a partir a partir do texto: "Séries de Informação ao Ciente" – Doença do Disco, Richard A. LeCounteur. Em: ETTINGER, S.J.; FEELDMAN, E.C.; Tratado de Medicina Interna Veterinária, 5º ed. Vol. 2, Rio de Janeiro: Guanabara, 2004.
Referência Bibliográfica:
DEWEY, C.W.; COSTA, R. C.; Neurologia canina e felina: guia prático, 1°ed. São Paulo: Editora Guará, 2017
FOSSUM, T. W.; Cirurgia de Pequenos Animais, 1º ed São Paulo: Roca, 2002
NELSON, R.W.; COUTO, C.G.; Medicina Interna de Pequenos Animais, 2º ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001
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