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Colapso de Traquéia em Cães

07/01/2016

         Colapso de Traquéia em Cães 

A traquéia normal é um tubo condutor flexível e semi rígido que une a laringe aos brônquios 2. Ela é constituída por 35 a 45 cartilagens em forma de C, intercaladas por um ligamento anular elástico2, estes anéis cartilaginosos  permanecem abertos durante todas as fases da respiração3.  A parte dorsal da traquéia  livre de cartilagem, é composta de mucosa, tecido conjuntivo e músculo traqueal (membrana traqueal dorsal) 2,3. Assim como outros tecidos  do organismo a traquéia possui um número limitado de maneiras para responder a uma agressão 2. A resposta imediata da mucosa traqueal a irritação de qualquer natureza é o aumento da secreção de muco2. A resposta fisiológica a doença estenótica é o aumento da resistência da via aérea,  que não pode ser compensada pela respiração oral e pela diminuição da complacência pulmonar. A obstrução crônica pode resultar em hipertensão pulmonar secundária e a insuficiência cardíaca direita (coração pulmonar) 2.

O termo colapso de traquéia refere-se ao estreitamento  do lúmen traqueal (parte interna), resultante da fraqueza dos anéis cartilaginosos, redundância da membrana traqueal dorsal ou ambos3. A condição pode acometer a traquéia extratorácica, intratorácica ou ambas3.

 

Causas

A causa do colapso traqueal é complexa, e o mais aceito é que seja uma síndrome com causas multifatoriais, sendo muitas delas ainda incomprendidas1. O desenvolvimento da condição clínica aparentemente necessita da presença de anormalidade primária na cartilagem resultando em fraqueza do anel traqueal, bem como fatores secundários capazes de iniciar a progressão até o estado sintomático1. Uma redução na quantidade de glicoproteína e glicosaminoglicano presentes nos anéis traqueais  é considerado como um defeito primário responsável  por fraqueza destes anéis1. E quando associado a outras alterações patológicas na matriz, são responsáveis pela redução na capacidade da cartilagem em reter água  diminuindo  consequentemente  sua rigidez funcional. Esta evidência sugere que estas anormalidades primárias sejam alterações congênitas 1.

Sugeriu-se uma relação entre colapso de traquéia e diversas condições, como tosse crônica causada por doença das vias aéreas e/ou parênquima pulmonar (infecção bacteriana, bronquite alérgica), doença cardíaca crônica  com compressão de traquéia e bronquios, traumatismo traqueal, desnervação da membrana traqueal dorsal, defeitos congênitos, obesidade, aumento de gordura mediastínica, massas torácicas e extratorácicas2,3, obstrução das vias aéreas superiores devido a prolongamento de palato mole, narinas estenóticas, paralisia de faringe e doenças sistêmicas como obesidade e hiperadrenoocorticismo3. Acredita-se que estas condições provavelmente são problemas associados e não propriamente as causas iniciantes da doença2.

 

Predisposição

O colapso de traquéia é comum em cães de meia idade a idosos, principalmente de raças pequenas e miniaturas, embora também possa ocorrer em cães jovens e de grande porte 3   Muitos cães de raças toys e miniaturas com tendência anatômica ao colapso de traquéia podem ficar assintomátticos por muito tempo, até que algum fator desencadeante  ou doenças secundárias iniciem a sindrome clínica 1. Yorkshire Terrier é a raça mais comumente afetada1, seguido por outras raças como o Poodle miniatura, Chihuahua e Pomerânia1,2 além do Shih Tzu e Lhasa Apso2. Não há predileção sexual, e a  idade mais comum para o aparecimento dos sinais é entre os 6-7 anos, mas aproximadamente 25% dos cães afetados iniciam sinais por volta dos 6 meses de idade 1. Os fatores potenciais desencadeantes  inclui obesidade, intubação endotraqueal recente, infecção respiratória, cardiomegalia, trauma cervical  e inalação de alérgenos ou irritantes 1.

 

Sinais Clínicos

Em geral, inicialmente os cães predispostos são assintamáticos, e podem manifestar o primeiro episódio após alguma situação que exija mais da parte respiratória, como aumento do esforço respiratório, tosse ou inflamação das vias aéreas3. A manifestação clínica pode ser de forma aguda, mas progridem lentamente no decorrer de meses a anos.  O principal sinal clínico é a tosse não produtiva, curta, alta e seca descrita como “grasnado de ganso” 1,2,3. Os proprietários do paciente acometido, podem confundir essa tosse com  esgasgos ou ânsia. Nos casos mais sérios o cão pode apresentar cianose (mucosa arroxeada pela falta de oxigenação) e até desmaio.

Essa tosse crônica pode ser iniciada ou piorada por excitação, ansiedade, puxões na coleira1,3 ou exercícios3, bem como pela palpação no pescoço (traquéia) 1. Uma vez iniciado os sinais clínicos, a sindrome é perpetuada pelo ciclo de inflamação crônica da mucosa traqueal, o que precipita o aparecimento de tosse e  que ao mesmo tempo piora a intensidade dela (tosse) 1. Posteriormente, geralmente após anos de tosse cônica, pode ocorrer angústia respiratória provocada pela obstrução do fluxo de ar para as vias respiratórias2,3.

Muitas vezes a traquéia colapsada se associa a doença cardíaca valvular mitral crônica e com frequência, deve ser diferenciada da insuficiência cardiaca provocada por esta condição2. O colapso traqueal também pode ocorrer clinicamente junto  com a bronquite crônica canina, sendo a traquéia intratorácica mais acometida nesses casos3. Ao exame físico geralmente o cão se apresenta normal, podendo ser magro a obeso. Dependendo do estado de ansiedade e da angústia respiratória no momento, a coloração da mucosa pode variar de normal a cianótica (arroxeada) 2.

 

Diagnóstico

A confirmação do diagnóstico requer a combinação de tosse persistente, resposta a palpação traqueal e demonstração de alterações intraluminal da traquéia preferencialmente via endoscopia1.  A disfunção dinâmica da traquéia pode ser demonstrada também através de outros exames como palpação, radiografia, ultrasonografia e traqueoscopia1,2,3. As radiografias devem ser da região cervical e torácica, durante expiração e inspiração3. A história e exame físico também devem enfatizar a pesquisa de uma doença agravante ou exacerbadora3.

Traqueoscopia - avaliação da traquéia com endoscópio. Observar a diminuição do calibre traqueal com o colabamento dorsal dos  aneis.

Tratamento

O tratamento varia de acordo com o quadro, agudo ou crônico, e embora as medicações possam ser as mesmas a necessidade de tratar rápida e vigorosamente o estágio agudo é fundamental 2. Os casos agudos devem ser tratados de forma emergencial1, principalmente na presença de cianose, pode ser necessário fornecer oxigenioterapia até que o animal se acalme, além disso pode ser utilizado antitussígenos, broncodilatadores,  calmantes/sedativos e/ou corticóides injetáveis 1,2,3. Esta terapia sintomático pode ser bem sucedido na maioria dos casos1,2,3. Nebulização ou vaporização e manter o animal num local mais fresco ou com bolsas de gelo também podem conferir alívio adicional2. O uso de medicações no tratamento a longo prazo em domicílio, vai depender da intensidade e frequência das crises.

Muitos cães com colapso de traquéia são obesos, e o depósito de gordura intratorácica interfere na amplitude da respiração, pois dificulta a expansão normal da caixa tóraxica1. Por isso redução de peso em animais obesos é essencial2,3, e algumas vezes apenas a perda de peso pode ser curativa no que se refere a remissão dos sintomas2. As coleiras cervicais devem ser substituidas pelos peitorais2,3, deve-se evitar superaquecimento dos cães (como deixa-los no interior do carro), e excitação excessiva também deve ser evitada3.

O tratamento cirúrgico deve ser considerado pros casos mais graves e irresponsíveis ao tratamento clínico3. Uma vez que somente o fato do defeito anatômico da traquéia, não garantir o aparecimento dos sinais clínicos, todo esforço deve ser feito para identificar e corrigir causas secundárias1. O tratamento medicamentoso a longo prazo pode ter bons resultados  para maioria dos pacientes, principalmente quando fatores contribuintes são identificados, tratados e/ou evitados1.

 

 Maricy Alexandrino – Médica Veterinária

Este texto é um trabalho original do Autor e é protegido pela Lei de Direitos Autorais. Qualquer uso ou reprodução deste texto depende de prévia e expressa autorização.

 

Referências Bibliográficas

1. BONAGURA, J. D., TWEDT, D.C.; Kirk´s Current Veterinary Therapy XIV, USA: Elsevier, 2009

2. ETTINGER, S.J.; FEELDMAN, E.C.; Tratado de Medicina Interna Veterinária, 5º ed. Vol. 2, Rio de Janeiro: Guanabara, 2004.

3. NELSON, R.W.; COUTO, C.G.;  Medicina Interna de Pequenos Animais, 4º ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010

 

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