Alopecia Pós-Tosa
Alopecia Pós-Tosa
Alopecia é o termo médico usado para designar ausência de pelos, que pode ser localizada ou generalizada, temporária ou permanente. Alopecia pós tosa, portanto refere-se a perda de pelos ou ausência de recrescimento, que ocorre após o cão ser tosado.
Este tipo de alopecia entra no rol das chamadas alopecias não inflamatórias, cuja causa permanece não compreendida [1]. Sabe-se que ocorre uma alteração no ciclo do crescimento dos pelos, mas não o que o causa. E para entender um pouco melhor, é preciso entender como se dá o crescimento normal dos pelos.
Eles seguem uma ordem de fases de desenvolvimento, que se divide em[2]:
- fase anágena: fase ativa de formação/produção do pelo
- fase catágena: fase que o pelo se queratiniza e migra até a abertura das glândulas sebáceas. Fase de transição
- fase telógena: a última fase, de descanso. Na qual o pelo fica retido no folículo como pelo morto, e depois é perdido/ eliminado.
A duração relativa das fases do ciclo varia com a idade do indivíduo, região corporal, raça e sexo, podendo ser modificada por uma infinidade de fatores fisiológicos ou patológicos [2]. O pelo normal cresce até que atinja o comprimento pré determinado que varia de acordo com a região do corpo (e é definido geneticamente) e então entra na fase de repouso (telógeno) que pode durar meses. [2]
A substituição do pelo em cães se faz no padrão mosaico, e isso é sabido pois os folículos pilosos do recém nascido já estão em estágios diferentes do ciclo ao mesmo tempo[2] . Este ciclo de crescimento do pelo é controlado por uma interação complexa entre fatores endógenos (internos do animal) e exógenos (externos). Fatores internos incluem citocinas e reguladores de crescimento, que possuem efeitos locais e hormônios que possuem efeitos sistêmicos[3]. Fatores exógenos importantes incluem fotoperíodo e temperatura. Estes fatores ambientais controlam a secreção de melatonina e prolactina, que de forma direta influenciam a atividade cíclica dos folículos pilosos durante o ano. Acredita-se também que o fotoperíodo com alguma participação da temperatura pode de forma indireta influenciar o ciclo do pelo, agindo no eixo hipófise-hipotálamo e afetando a secreção de cortisol e hormônios da tireoide, que sabidamente influenciam a atividade de crescimento do pelo em humanos e animais [3].
Além disso, há outros fatores que afetam o crescimento e a reposição capilar em cães e gatos como mudanças ambientais, idade, hormônios sexuais, região do corpo e raça [3]. Estima-se que o tempo médio normal necessário para o crescimento dos pêlos caninos no pós-tosa varia de 3 a 4 meses para as raças de pêlo curto e até 18 meses para os cães de pelo longo[2,3]
Sinais Clínicos
Ocasionalmente uma falha inexplicável e bastante frustrante ocorre em uma área de pele após corte estético ou tricotomia cirúrgica. A pele nas áreas acometidas parece macroscopicamente normal mas a biópsia, revela catagenização ou por vezes telogenização (“dormência”) dos folículos pilosos. Este desapontador sequestro folicular pode desaparecer espontaneamente de 6 meses a 2 anos após a tosa [2]. Em alguns casos pode levar anos para o rescrecimento dos pelos após tosa para procedimentos cirúrgicoos ou outros procedimentos [3].
Este “fenômeno” pós tosa é visto mais frequentemente em raças com pelagens longas e espessas [2,3] em especial as que possuem subpelo. Esta condição é relativamente comum e ocorre em áreas do corpo cujo pelo foi cortado ou raspado/tosado, sendo portando mais frequentemente vista no tronco e membros (nas áreas que são comumente tosadas). Sendo as raças nórdicas e que possuem sub pelo as mais afetadas, entre elas: Husky Siberiano, Samoieda, Malamute do Alasca, Keeshond, Chow Chow, Pastor Alemão, Akita, Spitz Alemão [4] mas pode ocorrer em qualquer cão[2].
A condição mais comumente vista após a tosa para procedimentos cirúrgicos ou para remoção de nós[2]. As áreas de alopecia podem ser notadas vários meses após a tosa ter sido feita podendo estar acompanhada de vários graus de hiperpigmentação (escurecimento da pele) [4]. A pele da área área sem pelos se torna ressecada, algumas vezes descamante, podendo haver mudança na coloração (escurecimento da pele) já os pelos remanescentes na região afetada são duros, ressecados, opacos e quabradiços.
Causa
Propôs-se que esta síndrome pudesse ocorrer como resultado de mudanças na perfusão vascular em resposta a mudanças cutâneas de temperatura. Outra possibilidade todavia, é que esses cães estão em seu estágio catagênico normal de crescimento do pelo, entre a perda e o crescimento de novo pelo. Essa teoria é apoiada pela descoberta de mudanças histológicas semelhantes nas biopsias de áreas com pelagem normal e áreas acometidas, ambas podem apresentar recrescimento do pelo na área tosada após sofrerem uma intensa perda de pelos ou uma assim chamadas derrubada de pelagem[2].
Uma outra teoria sobre a causa, seria que ocorre vasocontrição localizada que de forma súbita, levando a parada do ciclo do folículo piloso[4].
Diagnóstico
O diagnóstico definitivo se faz pelo histórico clínico, associado a exclusão dos diferenciais e ao resultado da biópsia com exame histopatológico[2,4,5,6].
Porém vale ressaltar que a avaliação histopatológica de material coletado por biópsia frequentemente são inespecíficos e não diferencia entre outras desordens do ciclo do pelo[1].
Diagnóstico Diferencial
Potenciais diferenciais incluem:
Todas essas condições podem ter apresentação clínica semelhantes a alopecia pós tosa[2,4,5,6] .
Tratamento
Trata-se basicamente de uma condição estética, sem qualquer prejuízo a saúde do animal. Não há tratamento específico, tendo em vista que se desconhece a causa exata da condição, e sabe-se que pode haver repilação espontânea em 3 meses a 2 anos[5].
Porém existem terapias que podem de algum modo estimular o recrescimento destes pelos, mas o resultado é sempre imprevisível e depende de resposta individual, podendo inclusive não responder a qualquer das alternativas tentadas[5].
Dentre as opções terapêuticas pode-se utilizar desde princípios ativos que estimulam crescimento do pelo com aplicação tópica diária, xampus fortalecedores, vitaminas via oral, laser e microagulhamento[5].
Nos pacientes que respondem a terapia (que pode demorar meses a resposta inicial), vale lembrar que o crescimento não ocorrerá de forma homogênea, podendo aparecer em tufos em determinadas regiões do corpo, e além disso poderão nascer com cor diferente, quase sempre a cor da pelagem do cão quando filhote (tende a ser mais escura que a pelagem de adulto).
Durante a fase de tratamento e recuperação é muito importante evitar qualquer forma de atrito adicional aos pelos que restaram e aos pelos que estiverem nascendo, portando neste período tosas e rasqueadeiras são contra indicadas. O banho e a escovação dos pelos deverá ser feita da forma mais delicada possível, pra não piorar as áreas de falha de pelo[5].
Prevenção
Todo esforço deve ser feito para minimizar métodos (tosa e corte) que possam afetar o aspecto do animal por muitas semanas [2] pois não há como prever quais cães irão apresentar ou não alopecia pós tosa.
Mas como foi citado anterioremente é sabido que determinadas raças são mais predispostas e portanto estas não devem ser tosadas (principalmente a máquina). Uma vez tendo apresentado o quadro, poderá ocorrer novamente ou não, mas fica desaconselhada a tosa nestes casos[5] .
Maricy Alexandrino - Médica Veterinária
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Referências Bibliográficas
1-MÜNTENER, T. et al Canine noninflammatory alopecia: a comprehensive evaluation of common and distinguishing histological characteristics, Veterinary Dermatology Volume 23, Issue 3 June 2012
2- SCOTT, D.W.; MULLER, W.H.; GRIFFIN, C.E.; Muller & Kirk, Dermatologia de Pequenos Animais, 5º ed. Rio de Janeiro: Interlivros, 1996
3. DIAZ, S.F, TORRES, S.M, DUNSTAN, R.W, LEKCHAROENSUK, C.; An analysis of canine hair re-growth after clipping for a surgical procedure, Veterinary Dermatology Volume15, Issue1 February 2004 Pages 25-30
4. VITALI,C. Canine non-inflammatory alopecia: What's new and what's old. Disponível em: <http://veterinarynews.dvm360.com/canine-non-inflammatory-alopecia-whats-new-and-whats-old> Acesso em 28 de janeiro de 2019
5- LARSSON, E.; LUCAS, R. Tratado de medicina Interna Veterinária: dermatologia veterinária. São Caetano do Sul, SP: Interbook, 2016.
6- SCOTT, D.W.; MULLER, W.H.; GRIFFIN, C.E.; Muller & Kirk, Dermatologia de Pequenos Animais, 7º Ed. Elsevier, 2013
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